sexta-feira, 15 de abril de 2011

Movimento Jundiaí Livre promove debate sobre mobilidade urbana

- por Felipe Andrade, no blog Japi Pelo Prisma da Esquerda


O Movimento Jundiaí Livre realizou seu segundo ato, após o lançamento oficial do movimento no dia 18 de fevereiro. Desta vez, o tema da discussão foi: mobilidade urbana, e para enriquecer o debate foi convidado o ex-secretário de transportes de São Paulo, da gestão da prefeita Luiza Erundina – Lúcio Gregori.

Além de ex-secretário de transportes, Lúcio é engenheiro aposentado da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), ex-diretor da Emplasa de São Paulo, ex-diretor de planejamento da EMURB e ex-secretário de serviços e obras da cidade de São Paulo.

Uma pessoa extremamente preparada para conduzir o debate, e como não podia ser diferente, fez da audiência um grande ato de discussão do trânsito da cidade de Jundiaí, apresentando suas concepções de transporte e mobilidade do macro para o micro, até chegar à realidade local.

Explicando sobre mobilidade urbana
Lúcio iniciou sua explanação trazendo uma analogia entre mobilidade urbana e mobilidade social, externando sobre a correlação de ambas e ratificando que o aspecto social é determinante para mobilidade urbana. O dado determinante apresentado é que quanto maior é a renda, mais vezes o indivíduo irá se locomover pela cidade.

Ou seja: o sujeito de menor renda não tem tanta necessidade de locomoção, pois suas atividades são restritas, normalmente o único fator que o faz sair de sua residência é o fato de ir ao trabalho, em detrimento ao sujeito da classe média, que estuda e tem momentos de lazer, além do trabalho.

Transporte público
Quanto ao transporte público, Lúcio fez referência ao Artigo 6º da constituição, cujo texto diz:
“São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.

Pois tal artigo tem como finalidade ratificar os direitos tidos como inexoráveis pela carta magna brasileira, e como pode ser visto transporte não consta no texto, o que de acordo com Lúcio é um grave erro, pois não existe ir e vir sem direito ao transporte, que é fundamental para o direito de progresso social de qualquer cidadão.

Paradigma
O maior paradigma do transporte público é a tarifa, segundo Lúcio, pois o atual método já está enraizado no inconsciente da grande maioria das pessoas, onde pagar por um serviço público é feito com total naturalidade, sem qualquer questionamento.

Nos outros serviços públicos já existe a consciência da população sobre seus direitos, pois ninguém aceitaria pagar por uma consulta do Sistema Único de Saúde (SUS) ou por um serviço policial, mas pelo transporte público se paga, explicou o palestrante.

Outro grande engano é quanto à política de subsídios, pois existe um grande paradigma quanto aos subsídios providos pelas 3 esferas de governo, onde qualquer incentivo fiscal provido trata-se de um subsídio, mas quando o assunto é transporte, a complexidade é exaltada pela tecnocracia como fundamento determinante para a não aplicação. Pura falácia segundo o palestrante.
Os subsídios ao transporte iriam dar possibilidade de intervenção ao estado, não ficando refém dos contratos com as empresas, que tem na tarifa a garantia do lucro e desta não abrem mão.

Assim o fetiche pela tarifa no transporte iria acabar, partindo do empresário, que não seria tão lesado, até chegar ao usuário. A verdade é que o estado deve assumir seu papel de responsável pelo serviço.

Veículo próprio ou transporte coletivo?
Existe no inconsciente coletivo, devido às campanhas publicitárias das últimas 5 décadas, um raciocínio lógico que de modo alegórico diz o seguinte: aquele que tem carro próprio é vencedor e o que é usuário do sistema de transporte público é perdedor.

Fato este que faz com que o fetiche do carro próprio seja uma epidemia perene, mas não apenas por culpa do cidadão comum, mas do estado que não tem força para qualquer intervenção – no atual modelo de gestão – pela melhoria de qualidade do serviço do transporte coletivo, o contraponto do carro próprio.

Ademais, existe por parte de algumas políticas públicas todo um viés de incentivo pela utilização do veículo próprio, como, por exemplo, os altos investimentos na malha viária em detrimento à baixa valorização das calçadas, dando mostra clara que o foco é aquele que pode se locomover com seu carro. No Brasil, a rua, avenida ou rodovia é de responsabilidade do estado, já a calçada é do usuário.

A indústria automobilística, as petrolíferas e metalúrgicas são empresas extremamente interessadas no sucesso dos automóveis, tanto que nos Estados Unidos, a General Motors (GM) comprava as empresas de ônibus e as fechava, forçando – cada vez mais, o uso do carro próprio.
Em suma, a baixa qualidade do transporte coletivo é o maior incentivador da utilização do carro próprio, restringindo o coletivo para as classes mais pobres, segundo Lúcio - existem interesses muito grandes quanto ao insucesso do transporte público que garante o lucro das grandes automobilísticas.

O grande detrator (pragmático) das dificuldades de mobilidade nas grandes metrópoles são os carros, onde o número cresce cada vez mais, em algumas cidades alcançando o índice de 2 carros por habitante. Algo que só será resolvido com um transporte público de qualidade e gratuito.


Jundiaí
Lúcio Gregori é morador de Jundiaí há alguns anos, e domina a estrutura da cidade. Iniciou sua fala dizendo que Jundiaí padece de problemas que assolam a maioria das cidades proeminentes economicamente, e reiterou: a força motriz do caos da mobilidade urbana em Jundiaí é o tripé especulação imobiliária, automóveis e desenvolvimento urbano.

Onde não existe um controle da especulação, não existe incentivo da utilização do transporte público e tampouco um planejamento em desenvolvimento urbano. Além dos grandes erros estruturais da cidade, que tem sua rodoviária afastada de qualquer terminal, e regiões com concentração de terminais e regiões afastadas dos terminais.

Citou como exemplo a Avenida Nove de Julho que perdeu parte de uma calçada para a implantação de mais uma via para automóveis. Segundo Lúcio, a administração Jundiaí tem cometido uma série de erros estruturais que contribuíram para a atual situação de mobilidade.

Um dos principais enfoques de Lúcio é de que a questão do transporte, em qualquer esfera, deve ser tratada como uma questão política e não meramente técnica, ou seja: Jundiaí, como qualquer outra cidade, só terá melhorias em seu transporte público através da disputa política entre os interesses do estado e da iniciativa privada.

Intervenções
Após o término da exposição, foi aberto o espaço para perguntas e Lúcio respondeu sobre a conjuntura de Jundiaí e políticas públicas de transporte, elucidando sempre que depende do estado, fugindo da tecnocracia, a ação de melhoria do serviço à população.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Movimento em defesa do povo de Jundiaí é lançado

Discurso de B.A., presidente do PSOL
Com a presença do senador Eduardo Suplicy (PT), do deputado estadual Pedro Bigardi (PCdoB) e representantes de entidades e partidos políticos de esquerda de Jundiaí, foi lançado nesta sexta-feira (18) o ‘Movimento Jundiaí Livre – Porque a Cidade é um Direito de Todos!’. O evento aconteceu na Associação dos Aposentados e Pensionistas de Jundiaí e Região e foi organizado pelo PCdoB, PT, PSOL e União da Juventude Socialista (UJS).

Auditório da Associação dos Aposentados ficou tomado por simpatizantes do movimento
Na ocasião, o movimento apresentou um manifesto que critica o modo como o município é governado nos últimos 20 anos e ataca principalmente a falta de planejamento e a especulação imobiliária - fatores que refletem diretamente na vida da população.

Tércio Marinho, presidente do PCdoB de Jundiaí, fala sobre os objetivos do movimento
Um dos objetivos do ‘Jundiaí Livre’ é a inserção da população jundiaiense em debates de ações que interferem diretamente no município, além de estruturar o projeto para o futuro do município.

Faixa da UJS em apoio ao Movimento Jundiaí Livre
No discurso, Suplicy prestou homenagens aos ex-vereadores petistas Antônio Galdino e Erazê Martinho (falecido), a quem classificou como “extremamente combativos”. O senador também mostrou-se atualizado em relação ao que acontece no município. “Tenho lido reportagens de como o hospital daqui está superlotado.”

O deputado Bigardi declara seu amor por Jundiaí e preocupação com o futuro da cidade
E fez elogios à iniciativa do movimento: “Li com atenção o manifesto e achei que faz todo sentido. Tem muito a ver com nosso anseio maior: criar em Jundiaí um lugar onde toda pessoa tenha voz, que possa questionar o que é feito com o dinheiro que vem do próprio povo.”

Para a vereadora Marilena Negro é preciso resgatar a militância de esquerda
FRASES

“Esse é um momento histórico para a cidade e o movimento diz para que nós viemos: promover a possibilidade do município se ver, discutir o que quer para o futuro.”
- Tércio Marinho, Presidente Diretório Municipal PCdoB

“Questionar o que parece que está a salvo de qualquer tipo de crítica. Temos de conscientizar a população, ganhar corações e mentes para que possamos construir uma cidade mais justa e igualitária.”
- B.A., Presidente Diretório Municipal PSOL

Paulo Malerba, presidente do PT Jundiaí
 “Jundiaí precisa se livrar do modelo de cidade que veda a participação popular, que ignora os problemas como trânsito ruim, transporte público inadequado, pressão sobre a Serra do Japi e  insuficiente infraestrutura de Saúde.”
- Paulo Malerba, presidente PT Jundiaí

“Tenho certeza de que este movimento dará frutos. Com esta união, conseguiremos realmente uma cidade melhor.”
- Edegar de Assis, presidente Associação dos Aposentados Jundiaí e Região

“Quando se está no poder há tanto tempo, perde-se a noção da crítica, do certo e do errado. Vejo na Câmara esses erros da Prefeitura e reajo!”
- Marilena Negro, vereadora PT

Senador Suplicy prestigia o movimento
“É possível construir um novo projeto político com estas pessoas que estão no poder? Não! Somos nós quem realmente amamos Jundiaí, não eles. O interesse deles é outro: Jundiaí virou um loteamento para essa gente, que só quer saber dos negócios imobiliários.”
- Pedro Bigardi, deputado estadual PCdoB

“Vamos criar em Jundiaí um lugar onde toda pessoa tenha voz, que possa questionar o que é feito com o dinheiro que vem do próprio povo.”
- Eduardo Suplicy, senador PT

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Manifesto de lançamento do “Movimento Jundiaí Livre”

O Movimento Jundiaí Livre é formado por cidadãos e cidadãs de diversos setores da nossa sociedade, que compartilham dois objetivos em comum: tornar a nossa cidade mais democrática e socialmente inclusiva. Envolve entidades e pessoas que amam Jundiaí. Pessoas nascidas, criadas ou que escolheram esta terra para levar a vida e cuidar de suas famílias. Que acreditam na democracia e na soberania popular para decidir seus caminhos.

Jundiaí possui um incrível potencial. Situada entre as duas das mais importantes cidades do Brasil, tem o privilégio de ser servida por grandes rodovias, como a Anhangüera e a Bandeirantes. Além disto, conta com reservas naturais significativas, fontes de água, como rios, represas e a Serra do Japi, um patrimônio da flora e da fauna. Esta é uma situação privilegiada e que pode beneficiar nossa cidade e toda população.

Mas, infelizmente, temos visto a falta de planejamento, o poder econômico e a especulação imobiliária desgastarem dia após dia a esperança de vermos efetivamente uma cidade que contemple o desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural de nosso povo. Um mesmo grupo governa esta cidade por longos vinte anos consecutivos, articulando interesses econômicos e políticos de um pequeno grupo em detrimento dos mais de 370 mil habitantes de Jundiaí. Isto é algo que gravemente nos preocupa.

Não apenas a falta de alternância no poder que justifica esse tipo de análise, mas, principalmente, o modo como se executa a continuidade política e os métodos utilizados para a dominação política local. Um grupo no poder que se perpetua através do uso da burocracia e do conhecimento da máquina política. Aproveitando-se do acesso a informações e da posição privilegiada na pirâmide do poder, a atividade política passa a ser exercida a fim de conseguir prosperar um projeto de continuidade nas esferas decisórias, tornando comum o uso privado do setor público. Esse grupo ainda estabelece o controle dos recursos financeiros conforme seu projeto de domínio; influencia os meios de comunicação e divulgação de informações para atender seus próprios interesses; barra novas iniciativas que possam expor ou colocar em risco sua manutenção no poder e busca deter por todos os meios qualquer movimento articulado de oposição, como acreditamos que também seremos vítimas. Mas resistiremos.

O grupo no poder também organiza a estrutura política em benefício de seu projeto de manutenção – ou seja, seus interesses não são os mesmos daqueles que deveria representar. Dessa forma, a participação dos indivíduos torna-se segmentada, limitada e amplia-se o poder da classe dirigente, o que permite que quaisquer resistências a estes mecanismos sejam minadas. Em Jundiaí, o trabalho para conseguir romper esta lógica é árduo, de tão enraizados que estão os mandatários locais, acostumados a tantas décadas de controle da política. Eles apenas trocam de siglas e de nomes, mas sempre representam os mesmos interesses.

Somos um Movimento de Oposição, consciente de nosso papel como agente político e capaz de mobilizar a sociedade para uma alternativa bastante diferente desta que esta colocada pelo Prefeito. Não queremos falar de eleições, mas inserir a população em debates sobre temas fundamentais, como educação, saúde, mobilidade urbana, entre outros. Desta forma, realizaremos nossos próprios debates, ouvindo e dialogando com toda a sociedade e apontando outros caminhos. Queremos chamar a juventude para esta discussão, pois sabemos o quanto Jundiaí precisa de políticas para jovens, com acesso ao esporte, cultura e lazer de qualidade, algo que não ocorre atualmente. O jovem quer participar da vida pública e necessita de espaços que lhe dêem esta condição verdadeiramente, sem as amarras do grupo no poder. Este Movimento convida o jovem para esta participação livre.

É hora de discutir uma alternativa de cidade: mais justa, sustentável e voltada para o interesse da maioria. Modificar essa realidade política sufocante e projetar um novo futuro para Jundiaí é uma exigência de vastos setores da sociedade e uma forma de honrar a luta e o trabalho, ao longo da História, de tantos cidadãos e cidadãs que se dedicaram à nossa cidade.

Assinam este Manifesto (Partidos em ordem alfabética):
Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)
Partido dos Trabalhadores (PT)
União da Juventude Socialista (UJS)

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